02/02/2009

Pirataria aliada

Os artistas e gravadoras podem pestanejar, esbravejar, mas dificilmente conseguirão combater efetivamente o rombo em suas receitas causado pela pirataria. Os CD’s e DVD’s já fazem parte da rotina de consumo de uma significante parcela da sociedade brasileira, e global. As instituições avolumam reclamações, com apelos morais aos consumidores etc. Tentam demonstrar que a utilização destes materiais é nociva a sociedade enquanto um todo. Será? O fato mais extraordinário da reflexão trazida por esta conjuntura é a percepção de que a pirataria é uma aliada do próprio sistema de opressão e sobretudo alienação dos povos. Com a pirataria, filmes, músicas, jogos, e muitos outros, são inseridos diariamente na casa de milhões de famílias. Estes meios de entretenimento causam diversão, desenvolvem coordenação, fornecem conhecimento e percepções. Por outro lado também são eficientes na atuação política de adestramento de massas e formação de ideologias e padrões mentais, minando não apenas a possibilidade de ação social efetiva, mas como o desenvolvimento intelectual engajado na transformação e reflexão sobre a realidade contemporânea. É desta forma que a pirataria corrobora com o sistema instituído. Através dela as classes “C, D e E” se tornam consumidoras de um material propagandístico e alienador, que encontra sua ação mais efetiva no contexto de dominação e manutenção do status quo.

26/01/2009

desempregos e alienação

Mais uma noite caótica para nosso sistema me acompanha. Acabo de ver notícias de centenas de milhares de demissões por todos países e continentes. A crise emerge a solavancos, enquanto as pessoas começam a se questionar da validade e alicerces de nossas estruturas. O pensamento iniciada por alguns pensadores da Escola de Frankfurt parece aliar-se muito ao atual momento histórico. Homens como Adorno e Horkheimer foram grandes críticos da mídia massificante e alienadora; profetizaram as algemas trazidas pelos meios de entretenimento de massas, que inviabilizaram qualquer busca por sentido social e humano, e jogaram o poder de reflexão dos indivíduos em jogos virtuais e tecnológicos, em aparelhos supérfluos que mantém a busca pela espiritualidade e satisfação atreladas a falsa idéia de que tal felicidade está na próxima TV, no outro celular, naquele player. A proposta trazida por estes dois pensadores afirmava que o “progresso” buscado pelas sociedades capitalistas necessitava de mais sentidos além do puro interesse de mercado. Questionaram sobre as verdadeiras necessidades da espécie humana, tentando compreender como as novas tecnologias poderiam nos ajudar a resolver problemas estruturais e históricos, como o da mão-de-obra, alimentação, e produção em geral. Se estes homens tivessem sido ouvidos mais atentamente, se tivéssemos nos proposto a refletir sobre nossa realidade em toda sua amplitude, talvez não precisássemos enfrentar tamanhos estremeceres ambientais, econômicos e sociais. Confesso também que um outro dado me inquieta muito. Esses mesmos dois pensadores sabiam que não seriam escutados. Ambos são conhecidos por seu pessimismo em relação ao futuro da humanidade. Acreditavam que Hollywood, entre outros atingiriam seu objetivo implícito ao sistema: conseguir estabelecer um padrão, uma normatividade, uma cultura do consumo atraente, pautada na valorização do prazer imediato, na consumação da ambição material, no status animal, instintivo, possessivo. Talvez a implantação obrigatória no Brasil do ensino de filosofia e sociologia no ensino médio seja uma medida não paliativa (até porque destas estamos cheios) que possa trazer algum benefício social real ao tentar levar para os nossos jovens uma reflexão profunda sobre nossa realidade. Em um momento como este de severa crise, não adianta continuarmos a nos esconder em nossas cavernas platônicas. Devemos sim abandoná-las, para buscar novos horizontes, desconhecidos ainda por nossa razão, e que possam nos levar a uma trajetória mais consciente e segura. Guilherme Gomide